O homem é livre, mas responsável. Cada ação que se pratica traz resultados que é preciso levar em conta. Talvez o essencial numa ética para nosso tempo, seja isso segundo Renato Janine Ribeiro que escreveu um artigo na folha de São Paulo : "já não respondemos apenas por nossa "intenção", pelo que nos parece ser a causa interior de agirmos de tal ou qual modo. Respondemos por bem mais: pelos resultados previsiveis de nossa ação". Uma obrigação de lucidez é essencial hoje na ação ética. Se tivermos um elenco de coisas permitidas e proibidas, se nos disserem o que é certo ou errado, é mais tranquilo, é um consolo! Apenas tem-se que obedecer à lista! Ainda no artigo da Folha o autor coloca que grandes estudiosos e pensadores comprovaram com estudos sérios do homem e da sociedade...é que as ações não podem ser estudadas de maneira isolada. A moral tradicional tende a afirmar que umas condutas são boas e outras não . Mas o que se aprendeu com as ciências do homem é que nenhum ato é bom ou mau em si. Mais ainda, que nenhum ato isolado significa nada. para que uma ação faça sentido, ela se engrena num processo, numa história: tem um passado e um futuro. Por exemplo, em tese o certo é dizer a verdade e o errado mentir. Mas será justo responder com a verdade a um assassino que procura sua vítima? Não posso julgar minha ação sem considerar o que ela produz. Não posso avaliar um ato isolado sem olhar o processo do qual ele faz parte.
Qualquer exame da história , ou mesmo a simples experiência de vida, já mostra quantas vezes o bem gera o mal, ou o inverso. Essa percepção de que bem e mal se misturam, no correr de uma história, no desdobrar-se de uma vida, talvez seja uma das noções que mais concorreu para definir a modernidade , ao romper com os quadros mentais herdados da idade Média. Quando Maquiavel observou que a crueldade de um principe às vezes faz os súditos sofrerem menos do que a bondade atabalhoada de outro. Não estava defendendo a prática do mal, mas apenas, abrindo espaço para relativizar este conceito, vendo-o numa perspectiva mais ampla, a da sociedade e a da história.
Assim o dado essencial da ética, hoje, é a dificuldade de se dizer qual a melhor ação: o preço da liberdade é a angústia de quem tateia por uma resposta. Num mundo em que sumiram as velhas verdades dadas, o sujeito ético sente-se tão perdido como um estranho no meio da cidade grande.É dificil eliminar essa dor e perplexidade. Qualquer autêntica preocupação com a ética terá que lidar com bem mais que a lista do certo e errado, da honestidade versus desonestidade. Não pode se reduzir a examinar fatos isolados , mas precisa considerar como eles se engrenam na vida de um povo, ou na história de numa pessoa: como concorrem para a liberdade, ou a escravidão, para a miséria ou o fim desta. Estas questões são dificies, até porque não existe uma divisão em que o bem esteja de um lado e o mal de outro, e a escolha é sempre dolorosa . Mas dessa dor, que está na raiz da liberdade humana , que decorre do fato de termos a cada opção de abrir mão de algo, ninguem nunca nos isentará.
Até o proximo post!!!!